Como os Cuidados de Saúde Primários podem ajudar a diminuir a sobrecarga das urgências

Em Portugal, a sobrecarga das urgências hospitalares tem sido um problema persistente no Serviço Nacional de Saúde (SNS), muitas vezes causada por doentes não urgentes. Este fenómeno é ainda mais frequente durante as estações de outono e inverno, quando existe uma maior prevalência de infeções respiratórias. Todos os anos, os profissionais de saúde dão o mesmo conselho à população: “os centros de saúde e a linha SNS24 devem ser a primeira opção”.

Com este problema a afetar todo o país, os Cuidados de Saúde Primários (CSP) podem, de facto, desempenhar um papel fundamental na diminuição da sobrecarga das urgências e proporcionar um atendimento mais eficiente e adequado à população. Para isto, é necessário que exista uma preparação das Unidades de Saúde Familiar (USF) para atender as necessidades da população de maneira mais eficaz, rápida e segura.

Triagem, referenciação e acompanhamento

Antes da ida às urgências, os centros de saúde podem ter um papel fundamental na procura de respostas por parte dos utentes. Muitas vezes, por falta de conhecimento e literacia em saúde, as urgências hospitalares são o primeiro ponto de contacto do doente — mesmo quando a doença não é urgente. Neste sentido, as USF devem ter um papel fundamental na triagem do doente e consequente referenciação para as urgências, quando a situação assim o justifique.

A triagem e o encaminhamento adequado desempenham um papel fundamental na gestão eficiente dos sistemas de saúde, especialmente nos centros de saúde. Estas unidades desempenham um papel crucial na prestação de cuidados de saúde primários à comunidade e, por isso, a capacidade de avaliar a gravidade dos casos e direcionar as pessoas de acordo com as suas necessidades é essencial.

A triagem é um processo de avaliação inicial que permite identificar a gravidade dos problemas de saúde dos doentes. Ao realizar uma triagem minuciosa, os profissionais de saúde nos centros de saúde podem determinar se um caso é urgente ou não. Isto é importante na medida em que pode evitar que os hospitais sejam sobrecarregados com utentes que poderiam ser tratados de forma eficaz num nível primário.

Desta forma, as pessoas com problemas de saúde menos graves podem receber tratamento adequado nos centros de saúde, o que economiza tempo e recursos, além de melhorar a eficiência dos cuidados. Por outro lado, os casos mais graves ou que requerem serviços especializados podem ser encaminhados prontamente para as urgências hospitalares, onde podem receber a atenção e avaliação necessárias.

A triagem e o encaminhamento melhoram o atendimento, mas também contribuem para a redução dos custos de saúde, a otimização dos recursos e a prevenção da pressão hospitalar. Para isto, também é fundamental que a comunicação entre os serviços seja eficaz e que responda às necessidades de cada doente.

Centros de saúde com horários alargados

Em outubro deste ano, Fernando Araújo, diretor-executivo do SNS, dizia, citado pelo jornal Público, que “temos que criar nos cuidados de saúde primários uma capacidade de atendimento, entre as populações que estão a descoberto, de termos consultas todos os dias, também ao fim de semana e aos feriados”. A afirmação de Fernando Araújo destaca a necessidade de criar uma capacidade de atendimento mais flexível e abrangente nas USF.

Como as Unidades de Saúde Familiar desempenham um papel crucial nos cuidados de saúde primários, estas unidades devem também estar preparadas para atender as necessidades dos utentes de maneira mais ampliada e frequente. Isto é possível, por exemplo, através do alargamento do horário de atendimento aos fins de semana e feriados, o que já acontece em muitos centros de saúde do país. Com centros de saúde abertos apenas nos dias úteis, muitos doentes recorrem às urgências durante o fim de semana, aumentando a pressão de casos que não são urgentes.

As vantagens não se limitam apenas ao alívio das urgências hospitalares, mas também para os utentes com consultas agendadas. Com horários mais flexíveis, os centros de saúde tornam o atendimento mais eficiente e conveniente, principalmente para aqueles que têm compromissos laborais e familiares durante o dia. Além disso, esta ampliação permite, na maior parte dos casos, uma redução das listas de espera para consultas com o médico de família.

Preparar as USF para melhorar a jornada do doente

A acompanhar esta mudança, as USF devem investir também em tecnologia e sistemas modernos para melhorar a jornada do doente. A capacidade das USF em fornecer atendimento de qualidade e acessível é fundamental para evitar idas desnecessárias às urgências hospitalares. Atualmente, a inovação tecnológica desempenha um papel cada vez mais importante na melhoria dos serviços de saúde e na redução da sobrecarga nas urgências. Como? Dando uma maior resposta aos utentes para que priorizem os centros de saúde em vez das urgências.

A Aurora teleQ é um exemplo de uma ferramenta que pode desempenhar um papel crucial nesse sentido. Trata-se de um sistema que permite que todas as chamadas telefónicas dos utentes para os centros de saúde sejam devidamente devolvidas em tempo útil, dando resposta a todos. Com esta solução, o utente telefona para a unidade de saúde e a tecnologia informa-o sobre a hora a que os serviços irão ligar de volta. Desta forma, é muito mais fácil marcar consultas e responder a momentos de uma crise de doença que, embora seja aguda, não é urgente.

A implementação desta inovação tecnológica melhora a eficiência no atendimento, mas também ajuda a prestar cuidados mais eficientes e rápidos. É essencial que a saúde em Portugal continue a evoluir para garantir que a população receba o atendimento adequado no local certo e no momento certo, reduzindo assim a pressão sobre as urgências hospitalares e melhorando a qualidade do atendimento médico no país.